Como a água.
Como a água que escorre
entre nosso dedos.
Assim é o tempo para a
maioria de nós.
Observo as pessoas lotando
as ruas e calçadas.
Com sua pressa, com seu
estresse, ou mesmo no nervoso passeio.
Para a maioria de nós, a
areia implacável do tempo na ampulheta da vida.
Nos consome e faz nos
consumir-se.
Somos nossos próprios
lobos, muitas vezes devorando-se em manjares servidos com nossa própria carne.
Saboreamos nossos pedaços
como se fosse a mais nobre das carnes.
E assim defecamos nossas porções
que invariavelmente volta a nos alimentar, nos dejetos de nossos pensamentos,
atos e omissões.
Corremos apressados no
globo do incansável mundo.
Que assim que é dado a
partida, o mundo espera de nós exatamente isso, ou seja, apenas a corrida.
E assim, mal caminhamos e
já estamos correndo, tropeçando, caindo, rolando e nas escoriações da vida não
progredimos.
E tudo porque não deixamos
o mundo e sim nos apegamos mais e mais a ele.
Ofertas desmedidas nas promoções
da morte todos os dias enfrentamos a fila para comprar mais e mais.
Acotovelamo-nos, nos
agredimos para ter nosso quinhão nos jardins das fatalidades.
Afinal temos pressa em
chegar.
Até mesmo nos atropelos de
nossas orações não paramos de correr a favor do mundo.
E a terra gira.
Gira permanentemente,
enquanto atordoados ficamos cada vez mais em nossa sobriedade ou não, porém cem
por cento mundana.
Queremos então soluções
para o todo enquanto não encontramos sequer soluções para nós mesmos.
Vendemo-nos as crenças das
mais variadas, profanadas e iludidas pelas maquinações do tempo mundano senil,
a qual chamamos de lógica ou mesmo razão.
E a água escorre entre
nossos dedos e então tentamos aparar com as palmas das mãos.
E assim os poucos que
conseguem esta façanha pensa ter encontrado o supra sumo da felicidade.
Quando o sentido da vida
se faz noutra realidade, noutro plano, noutra direção.
Então longe do mundo
poucos estão e conseguem ficar.
E esses poucos são santos,
e estes poucos são especiais.
Porque não tentam segurar
a água e sim bebe-la.
Não se importam com a
areia intermitentemente caindo na ampulheta.
Não se importam em ver que
a areia agora cai mais rápido do que caíra um dia quando iniciada fora, pois,
uma hora a areia acaba.
Não se importam porque
sabem que fazem em parte, parte deste mundo, e sabem que não adianta tentar
segurar a água.
Esses poucos, que
verdadeiramente encontraram o sentido da vida, sabem que nada disso importa e
tudo se consuma ao olhar para dentro e através da cruz.
Roberto Mariano.
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