quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Como a água.


Como a água que escorre entre nosso dedos.
Assim é o tempo para a maioria de nós.
Observo as pessoas lotando as ruas e calçadas.
Com sua pressa, com seu estresse, ou mesmo no nervoso passeio.
Para a maioria de nós, a areia implacável do tempo na ampulheta da vida.
Nos consome e faz nos consumir-se.
Somos nossos próprios lobos, muitas vezes devorando-se em manjares servidos com nossa própria carne.
Saboreamos nossos pedaços como se fosse a mais nobre das carnes.
E assim defecamos nossas porções que invariavelmente volta a nos alimentar, nos dejetos de nossos pensamentos, atos e omissões.
Corremos apressados no globo do incansável mundo.
Que assim que é dado a partida, o mundo espera de nós exatamente isso, ou seja, apenas a corrida.
E assim, mal caminhamos e já estamos correndo, tropeçando, caindo, rolando e nas escoriações da vida não progredimos.
E tudo porque não deixamos o mundo e sim nos apegamos mais e mais a ele.
Ofertas desmedidas nas promoções da morte todos os dias enfrentamos a fila para comprar mais e mais.
Acotovelamo-nos, nos agredimos para ter nosso quinhão nos jardins das fatalidades.
Afinal temos pressa em chegar.
Até mesmo nos atropelos de nossas orações não paramos de correr a favor do mundo.
E a terra gira.
Gira permanentemente, enquanto atordoados ficamos cada vez mais em nossa sobriedade ou não, porém cem por cento mundana.
Queremos então soluções para o todo enquanto não encontramos sequer soluções para nós mesmos.
Vendemo-nos as crenças das mais variadas, profanadas e iludidas pelas maquinações do tempo mundano senil, a qual chamamos de lógica ou mesmo razão.
E a água escorre entre nossos dedos e então tentamos aparar com as palmas das mãos.
E assim os poucos que conseguem esta façanha pensa ter encontrado o supra sumo da felicidade.
Quando o sentido da vida se faz noutra realidade, noutro plano, noutra direção.
Então longe do mundo poucos estão e conseguem ficar.
E esses poucos são santos, e estes poucos são especiais.
Porque não tentam segurar a água e sim bebe-la.
Não se importam com a areia intermitentemente caindo na ampulheta.
Não se importam em ver que a areia agora cai mais rápido do que caíra um dia quando iniciada fora, pois, uma hora a areia acaba.
Não se importam porque sabem que fazem em parte, parte deste mundo, e sabem que não adianta tentar segurar a água.
Esses poucos, que verdadeiramente encontraram o sentido da vida, sabem que nada disso importa e tudo se consuma ao olhar para dentro e através da cruz.


Roberto Mariano.

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